Segurança - Lojas investem para evitar crime do papel alumínio
Folhas prateadas tornam inoperantes
sistemas antifurto e varejistas investem milhões para reduzir perdas;
bolsas forradas de alumínio, as sacolinhas do furto, custam R$ 50
AE
Lojas de departamento são as principais vítimas de furtos realizados com bolsas revestidas de papel alumínio
Prática, comum em quase todas as casas e aparentemente
inofensiva, a folha de papel alumínio está se transformando no terror
dos grandes varejistas brasileiros às vésperas deste Natal. Por causa
dela, lojas de departamento estão gastando milhões de reais em novos
sistemas de alarme capazes de detectar quem anda por aí com papel
alumínio dentro da bolsa. Cadeias de livrarias fazem o mesmo e agora
também exigem que seus fiscais sejam capazes – sabe-se lá como – de
identificar clientes que pareçam carregar quantidades avantajadas do
material na mochila. Nos supermercados, os operadores das câmeras de
segurança gastam a maior parte do tempo seguindo suspeitos de estarem
armados com rolos de papel alumínio. Tudo porque larápios bem informados
descobriram que a singela folhinha prateada que tanto ajuda as donas de
casa nos assados dominicais tem o poder de simplesmente tornar
inoperantes os modernos e milionários sistemas de segurança instalados
nas grandes lojas do país.
Ao que parece, a descoberta de que o papel alumínio é uma espécie de
kriptonita para os alarmes aconteceu em Brasília há alguns anos. De uma
hora para outra, gerentes de grandes lojas de departamento perceberam
que estavam sendo furtados em um volume muito maior do que o normal, sem
que os alarmes fossem ativados. “Às vezes, sumiam peças de uma arara
inteira sem ficar nenhum rastro, nem etiquetas de segurança estouradas,
nem sinal de alarme”, conta o responsável pela área de segurança de uma
grande rede varejista. Após instalar mais câmeras e “aprimorar” as
técnicas de questionamento junto àqueles pegos em flagrante,
descobriu-se que a arma secreta utilizada pelos ladrões para burlar o
sistema de segurança nada mais era que ela, a folha de papel alumínio.
“Algum técnico deve ter revelado o segredo e agora a coisa saiu do
controle”, diz o gerente, que não foi autorizado pela empresa para qual
trabalha a dar entrevistas sobre o incômodo assunto. Leia Também: Vídeo flagra gangue usando a sacola do furto em loja de roupas
O tal segredo é simples, porém eficaz. Qualquer etiqueta de
segurança, seja ela grande e rígida, como aquelas pregadas nas roupas,
ou quase imperceptíveis, como as que vêm transvestidas de código de
barras, se tornam inoperantes quando envoltas em algumas poucas folhas
de papel alumínio. “A verdade é que com três ou mais folhas envolvendo a
etiqueta praticamente nenhum sistema funciona. O alumínio torna o
acionamento do alarme inoperante”, reconhece Marcello Teixeira, gerente
de soluções em vigilância eletrônica de mercadorias da Plastrom
Sensormatic, a empresa líder no mercado brasileiro de sistemas antifurto
para o varejo. Isso acontece porque em quase todas as lojas
brasileiras, a tecnologia utilizada para acionar o alarme é feita por
radiofrequência.
Divulgação
Quando as etiquetas estão envoltas por papel alumínio, antenas de segurança não recebem sinal e alarme não é disparado
As etiquetas de segurança, em uma linguagem grosseira, estão
adormecidas e, quando passam pelas antenas, aqueles sensores em forma de
totens colocados nas portas das lojas, recebem uma carga elétrica,
mínima, é verdade, mas que as faz emitir um sinal. Ao receber o sinal,
as antenas disparam o alarme. O alumínio não permite que as ondas
emitidas pelas antenas cheguem até a etiqueta, que, por sua vez, não
emite nenhum sinal. Assim, o alarme não é disparado. O mesmo princípio
impede que telefones celulares funcionem quando envoltos em papel
alumínio. Por isso, os usuários dessa técnica de gatunagem têm usado os
celulares para testar a eficiência de suas sacolas do furto. Jogam o
telefone lá dentro e fazem uma ligação. Se der sinal de desligado
significa que o artefato está pronto para enfrentar o sistema de
alarmes.
Até cerca de dois anos, pouca gente sabia disso. Os que sabiam
estavam concentrados em Brasília e algumas cidades do Nordeste, como
Maceió e Natal. Mas, de repente, as propriedades bloqueadoras do papel
alumínio começaram a se espalhar pelas principais cidades brasileiras na
rapidez de um bom mito urbano. E em pouco tempo as grandes lojas de
varejo se deram conta de que seus sistemas de monitoramento e alarme não
eram páreo para o papel alumínio. “Ano passado já tivemos um aumento
considerável, mas esse ano a coisa explodiu. Hoje o papel alumínio é
nosso maior inimigo e a técnica de furto que mais nos causa prejuízo”,
conta Edson Fortuna, diretor de Auditoria da Rede Riachuelo, uma das
poucas empresas que aceita falar abertamente sobre o assunto.
O furto com bolsas de alumínio se popularizou tanto em algumas
regiões do País que bolsas especialmente feitas para esse fim estão
sendo comercializadas em centros de comércio popular. Em Belém, na feira
próxima ao Mercado Ver o Peso, as bolsas preparadas e com garantia de
funcionamento são vendidas a R$ 50 a unidade. No Rio, outra cidade que
vem registrando um crescimento exponencial dos furtos com papel
alumínio, as bolsas, conhecidas como sacolinhas do furto, são vendidas
em Duque de Caxias. “O que impressiona é o tamanho delas. Flagramos uma
com quase 100 peças na nossa loja de Osasco (Grande São Paulo). Seria um
prejuízo de quase R$ 6 mil”, diz Fortuna, da Riachuelo.
Só no ano passado a Riachuelo perdeu cerca de R$ 20 milhões com
furtos em suas lojas, algo como 0,75% do faturamento total da rede, que
deve encerrar esse ano com 145 lojas espalhadas pelo país. “A maior
parte dos furtos ainda é interna, praticada pelos nossos funcionários,
mas a atuação de verdadeiras gangues têm crescido”, conta Fortuna. Para
tentar se defender, a Riachuelo já investiu mais de R$ 1 milhão em um
novo sistema de segurança.
Divulgação
Sacolas forradas com papel alumínio apreendidas pela Riachuelo em Belém
A Riachuelo está longe de ser uma exceção. Praticamente todas
as grandes cadeias varejistas estão investindo em sistemas semelhantes.
Empresas como C&A, Saraiva, Leroy Merlin e grandes redes de
supermercados já instalaram um sistema semelhante ou estão planejando
fazê-lo em pouco tempo. Nenhuma delas quis conversar sobre o assunto
com a reportagem do iG. “Ninguém gosta de tocar nesse
assunto, mas desde meados do segundo trimestre todos os grandes
competidores começaram a se mobilizar para encontrar uma solução para
reduzir a ação desses criminosos”, diz Gustavo Velehov, diretor geral da
Checkpoint, uma outra empresa especializada em sistemas antifurto.
São essas mesmas empresas que venderam os sistemas originais
incapazes de vencer a folha de papel alumínio que agora estão lucrando
com a nova demanda dos varejistas. O novo mecanismo que está sendo
vendido por todas elas não resolve o problema, longe disso. Ele apenas
identifica que uma pessoa entrou na loja com uma quantidade considerável
de papel alumínio. “Rapidamente o circuito interno de tevê e os
seguranças passam a monitorar essa pessoa de perto”, diz Adriano
Sambugaro, diretor de marketing da Gateway Security, vice-líder do
mercado brasileiro no segmento de segurança para empresas de varejo . O
tal detector de papel alumínio encarece em até 30% o valor do sistema de
alarme. Mas não há muito que os lojistas possam fazer. De acordo com
as empresas de segurança, ainda não surgiu nenhum mecanismo capaz de
vencer o frágil, porém poderoso, papel alumínio nessa batalha.