Segurança - FBI PRECISARIA DE 103 ANOS PARA DECIFRAR SISTEMA DE PROPINA DA ODEBRECHT
JANOT PEDE AJUDA A AMERICANOS PARA ACESSAR SERVIDORES NA SUÍÇA

SUÍÇA CLASSIFICOU A OPERAÇÃO DA ODEBRECHT PARA PAGAMENTO DE PROPINA COMO
“ALTAMENTE PROFISSIONAL”
(FOTO: MARCOS BEZERRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)
Quase
um ano após os investigadores da Operação Lava Jato identificarem
servidores da Odebrecht na Suíça, parte das informações da empreiteira
sobre pagamentos de propinas pelo mundo continua em segredo.
Sem conseguir acessar os dados, protegidos por uma série de códigos e
chave de segurança, a Procuradoria-Geral da República recorreu até ao
FBI, órgão de investigação dos Estados Unidos.
A resposta dos americanos, porém, não foi nada animadora. Em comunicado
ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o FBI disse que, mesmo
usando toda a sua tecnologia disponível, precisaria de 103 anos para
superar as sofisticadas camadas de proteção dos servidores da
Odebrecht.
A existência destes servidores na Suíça foi revelada no início de 2016
por funcionários do Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de
propinas” da empreiteira. Eles afirmaram que, para consultar os
documentos, o sistema exigia um código secreto que era trocado
diariamente, além do uso de uma chave no computador central. Os
funcionários disseram que desconheciam esta chave.
Conexão. Após o pedido de ajuda dos investigadores brasileiros, o FBI
indicou que estava disposto a colaborar e que poderia romper o código se
soubesse qual havia sido o último computador a fazer uma conexão ao
servidor. Uma vez mais, porém, os funcionários da Odebrecht indicaram
que não tinham esse controle e não saberiam dar uma resposta. Segundo
eles, eram os altos executivos da empresa que davam as ordens para os
pagamentos de propinas.
O FBI, então, avisou a Janot que poderia iniciar um processo para tentar
romper o código. Mas, que, por suas previsões, teria de fazer
simulações com diferentes combinações de códigos por 103 anos para que
pudesse superar o sistema de proteção criado pela Odebrecht.
Uma saída encontrada pela Procuradoria-Geral da República foi buscar a
cooperação da Suíça, que classificou a operação da empresa brasileira
como “altamente profissional”. Berna, segundo os brasileiros, conseguiu
acesso a cerca de um terço do material contido nos servidores. Em um
documento revelado no fim de dezembro, o Ministério Público suíço
confirmou que os servidores têm “uma enorme quantidade de dados” sobre
pagamentos de propinas.
Neles, informações equivalentes a 2 milhões de páginas de documentos
poderiam ser retiradas, “incluindo e-mails, ordens de pagamentos,
conferências e contratos que serviriam para justificar pagamentos”.
“Além disso, milhares de listas foram confiscadas e pagamentos relatados
por meio do sistema ilegal foram listados, com datas, o valor e o nome
dos recipientes”, informou o Ministério Público suíço.
Segundo Berna, um ex-executivo da Odebrecht, Fernando Miggliaccio,
apagou parte dos rastros nos servidores. Ele fez isso em fevereiro de
2016, pouco antes de ser preso em Genebra tentando encerrar contas
bancárias e retirar pertences de cofres. (AE)